A segunda palestra que assisti na conferência foi sobre o comportamento humano em diferentes culturas. Foi uma professora de psicologia do college que falou sobre o assunto. Gente, a mulher falou por 50 minutos sem respirar. Eu fiquei de boca aberta nos 50 minutos. Sabe aquele tipo de palestra que você não consegue tirar os olhos? Não consegue parar de prestar atenção? Foi assim!
Dá só um bizu nas coisas muito loucas que a moça falou:
1) O desenvolvimento humano é diretamente influenciado pelo ambiente em que vive, isso inclui pessoas, habitat, língua falada, roupas, etc.
2) Algumas tribos na África vivem somente em florestas tropicais, por isso a noção de profundidade e distância deles é diferente. Quem nasceu e cresceu em vales, por exemplo, sabe distinguir entre distâncias porque a paisagem sempre muda. Para quem vive em florestas, não há muita diferença. As árvores seguem mais ou menos a mesma altura, o mesmo padrão e a paisagem ao redor das árvores não muda muito. Por isso a noção de profundidade do povo é diferente. Imagina isso: uma sala com uma pele de tigre esticada no chão, daquelas em que aparece a cabeça, as patas, tudo certinho. Agora imagina visualizar um tigre de cima, como se você estivesse em um helicóptero. A psicóloga apresentou essas duas fotos para a gente, só que era com elefante, um esticadão, e o outro só com a cabeça e o corpo (vista aérea). Um pesquisador mostrou essa foto para o povo dessa tribo e todos disseram que eles visualizam o elefante na forma toda esticadona no chão, não na perspectiva da visão aérea. Ela disse que, como eles nunca tiveram essa noção de perspectiva e profundidade mais apurada, eles não sabem distinguir.
3) Nessa mesma tribo, o pesquisador apontou ao longe um bando de antílopes e perguntou para alguns tribais o que era aquilo. Eles disseram que eram formigas. Daí o pesquisador colocou todo mundo em um carro e foi andando até o bando de antílopes e perguntou de novo o que era aquilo. Eles disseram que eram antílopes. Daí o cara voltou de carro para o mesmo lugar distante e perguntou de novo. Eles disseram que o pesquisador era mágico, porque conseguia transformar antílopes em formigas e formigas em antílopes (!).
4) Um povo na Nova Guiana não usa os dedos da mão para contar, como nós fazemos (1,2,3,4,5…). Eles usam as partes do corpo para contar. Tipo, vãos dos dedos, pulso, antebraço, braço, pescoço, cabeça, até chegar no outro extremo da outra mão. Como eles não precisavam de quantidades grandes, o número não passava de 30. Quando você pergunta quantos XX tem em um certo lugar, eles dizem 1 mão, 1 cabeça, 2 mãos, 2 pescoços e tal. Não dizem os números exatos como nós fazemos através dos dedos e dos numerais exatos. Para eles não é interessante saber que existem 27 pedras, mas que tem entre 20 e 30. Então, cientistas dizem que matemática é a única coisa que a gente pode considerar global e isso não é verdade. Esse povo não sabia fazer subtração, multiplicação, ou divisão. Mesmo depois que ensinaram os candangos a contar diferente, eles ainda usavam os membros do corpo para raciocinar e usam isso até hoje.
5) A noção de inteligência desse povo aí: perguntaram para eles quem era na tribo a pessoa mais inteligente dali. Todo mundo respondeu que eram os dançarinos, porque eles representavam a cultura daquele povo e passavam isso de geração em geração. Se fizer a mesma pergunta para alguém fora dessa tribo, a pessoa pode dizer o nome de algum físico, matemático ou sei lá o que que tenha contribuído para a humanidade. Até a perspectiva de inteligência é diferente entre culturas.
6) Alguns lugares na África ainda estimulam a mutilação genital feminina. A psicóloga estava dizendo que para nós isso é horrível e que a nossa cultura não aceita isso, mas para eles é aceitável, é comum, é da natureza deles. Se alguém sair daqui e for para lá dizendo que isso é errado e que eles precisam parar, eles não irão entender. Já que eles cresceram com essa cultura, é tudo normal para eles. Tanto que algumas tribos já estão mudando essa atitude e proibindo a mutilação genital, mas as mulheres mais idosas ainda estimulam isso, porque elas passaram por esse processo. Quando você experimenta algo, aquilo se torna parte da sua natureza.
7) Existe uma doença mental que é muito comum em homens asiáticos em que eles acreditam que o órgão genital está desaparecendo. Eles acreditam tanto nisso, que chegam a se machucar de todas as formas para fazer com que o pênis não desapareça. Muitos deles puxam até sair o negócio da mão, mahucam tudo de vez e isso não acontece só com homens. As vezes as mães de meninos pensam que eles estão com essa doença e elas mesmas começam a fazer algo para que o pênis não desapareça. Até eles entenderem que isso não existe, que é algo do cérebro, já era. Começou a acontecer com mulheres também, elas pensam que os peitos vão sumindo e tentam fazer algo para colocar tudo para fora.
8 ) Anorexia não existia na Ásia e isso é assunto recente. O problema é que a nossa definição de anorexia é extremamente diferente da definição dos asiáticos. Anorexia para nós é a pessoa pensar que está gorda mesmo estando magra, é comer por obrigação, as pessoas têm consciência da doença. Na Ásia não é assim, elas sabem que estão magras demais e não tem medo de engordar, comem e dizem que sente algo estranho na garganta ou no estômago enquanto comem. Então, até a forma de definir doenças e diagnosticar pacientes é uma coisa que varia de cultura para cultura. Muitas vezes os médicos que seguem o padrão de diagnóstico americano fazem com que seus pacientes percam tempo e saúde, porque isso não se aplica a cultura deles. Portanto, o tratamento não pode ser o mesmo.
Louco, né? Isso tudo foram exemplos que ela deu para mostrar como o ser humano é diferente, como nós temos que levar em consideração a cultura do povo antes de apontar e falar “você está errado”.