Balanço final

Já estou em casa (finalmente!), mas foi com emoção. Eis um balanço da viagem:

Eita, coisa boa!Eita, coisa ruim!
1) Cobras podem ser gente boa
2) Rosto pinicando de tanto frio é muito gostoso
3) Um policial me mostrou como um carro pode ser roubado
4) Fazer trilha a pé é muito legal
5) Dirigir carro híbrido e automático é muito tranquilo
6) Conhecer pessoas diferentes
7) Museus continuam sendo um dos meus lugares preferidos
8) Rever antigos amigos é importante
9) Dizer sim para quem quer te ajudar faz a diferença
10) Comer comidas diferentes
11) Aprender palavras novas
12) Covid negativo
13) Ver a evolução de pessoas e lugares é inspirador
14) Descobri que tenho acesso às salas reservadas nos aeroportos
15) Aprendi que eu consigo me ajudar em momentos em que eu preciso de mim mesma
16) Meus amigos são muito meus amigos de verdade
1) Não é legal ficar muito tempo no aeroporto
2) Cigarros e seus derivados me dão dor de cabeça
3) Tentativa de roubo de carro tem uma energia muito pesada
4) Mensagens de suicídio no banheiro
5) R$ 500,00 em duas viagens de Uber
6) Covid positivo
7) Tornado
8) Trem cancelado
9) Voo remarcado
10) Suicida ensanguentado
11) Ônibus fedido
12) Avião arremetendo pode dar ânsia de vômito
13) Não é legal ficar muito tempo na rodoviária


Acho que essa foi a viagem mais montanha russa que eu já fiz, e foi muito bom =)

Até a próxima!

Só um minuto, vou pegar o barco

Depois do tanto estresse, finalmente consegui a confirmação do voo para retorno ao Brasil. Mesmo assim, eu sabia que precisaria de um momento para liberar todo esse estresse em vez de absorver tudo de ruim (emocionalmente falando). A minha maneira de fazer isso é via contato com a natureza. Domingo saí para caminhar em um parque, andei de bicicleta, meditei… isso tudo me ajuda a deixar passar tudo o que eu senti de ruim nos últimos dias. Segunda-feira saí para andar de bicicleta de novo e hoje fui caminhar em um outro parque.

Além disso, passei no College onde estudei. Foi muito legal ver prédios novos, estruturas novas, isso quer dizer que houve expansão e a educação segue sendo uma prioridade aqui.

Também tirei algumas fotos do lugar onde eu morei há 13 anos e posso dizer que só reconheci o lugar, porque as cores são as mesmas e o portão de entrada continua igual. Todo o resto é irreconhecível. Quando eu morei aqui, o supermercado mais próximo ficava a 10min. de carro, hoje o supermercado mais próximo fica logo em frente ao apartamento, é só atravessar a rua. Antes era tudo um descampadão sem fim, não tinha nem árvore, não tinha nem vizinho por perto, agora tem um lago gigantesco aqui, até construíram 2 pontes para os carros atravessarem. Gente… lago, ponte, água. Como assim?! Brotou um lago no meio de um descampadão!!

Agora tem tipo um “condomínio” mais chique em frente ao apartamento, aí uma das formas de transporte do pessoal que mora nesse condomínio é de barco, bar-co, b-a-r-c-o. Já imaginou você falar tipo “vamos almoçar? vou pegar o barco”. Como assim?! As casas têm estacionamento para carro e estacionamento para BARCO. Fiquei absurdada com isso. A minha vida teria sido muito mais fácil se essa estrutura toda já estivesse aqui 13 anos atrás.

Segue um antes e depois para que que mais pessoas fiquem absurdadas junto comigo:

Clique aqui para ver todas as fotos.

No, not yet!

Palavras-chave (porque esse post merece um resumo): tornado – saga – sangue – urina – carinho

Pois bem, o plano era sair de Houston dia 31/03, chegar em Chicago em 01/04, chegar no Brasil em 02/04. Fui em direção à viagem de trem para sair de Houston em direção à Chicago. Só que antes de chegar no trem, tinha um trajeto de 4h que deveria ser feito em um ônibus operado pela própria empresa do trem (Amtrak). Viagem de ônibus super tranquila, ônibus limpo, tirei altos cochilos, até que o motorista deixou a gente descer em um posto de gasolina para fazer uma pausa. Quando nós retornamos ao ônibus, o motorista anunciou que ele não poderia seguir viagem até que alguém da empresa o autorizasse, pois havia algum problema que ele ainda não sabia qual era. Eis que vem a notícia: devido a um tornado em uma cidade anterior ao nosso trajeto, os trens daquela rota foram cancelados e, por isso, nós iríamos para um hotel para passar a noite.

Ao chegar no hotel, recebo a notícia de que o trem iria atrasar 24h, ou seja, eu iria perder meu voo em Chicago. Aí saí eu que nem uma maluca estudando todos os cenários possíveis: alugar carro, pegar ônibus, pegar táxi, pegar outro trem, comprar voo de última hora, arrumar carona, sair da cidade onde eu estava, ir para Houston, ir para Dallas, o que fazer? Liguei para zilhões de pessoas, fiz zilhões de pesquisas, comecei às 18h e terminei às 04h da manhã do outro dia.

No meio desse forfé todo, fiz a burrada de ir até a recepção do hotel perguntar se alguém tinha alguma outra ideia do que eu poderia fazer para não perder o meu voo no dia seguinte. Para a minha surpresa, nesse mesmo momento, o corpo de bombeiro junto com uns 15 policiais estavam concluindo um resgate de uma pessoa que tentou se matar dentro do hotel. E essa pessoa passou ali na minha frente na maca todo ensanguentada. Eu fiquei sem reação, foi impactante ver aquela cena, mas precisava resolver o meu problema, pois ainda não tinha ideia do que fazer, já que todos os cenários que eu tinha estudado até aquele momento só me levavam ao cancelamento do retorno ao Brasil. Parei um momento para respirar e continuei a saga.

Consegui uma passagem de ônibus para retornar à Houston em 01/04, mas foi uma experiência que não acho que preciso ter novamente. Me senti muito insegura, não tive nem coragem de pegar um livro para ler, era um ônibus extremamente sujo (mas com ar condicionado), com diversos odores que iam desde sardinha enlatada até cigarro e urina. Nem a máscara ajudou a esconder tudo isso. Pessoas falando muito alto, com som alto no celular, uma bagunça. E eu precisava me controlar nesse ambiente por 4h de viagem até chegar em Houston.

Perdi milhas, perdi muito dinheiro, perdi a paciência, perdi o sono, senti raiva, senti pena do rapaz suicida, chorei, chorei muito, respirei fundo, respirei fundo de novo e o resultado: precisei adiar o meu retorno ao Brasil. Já comprei novas passagens, mas até esse momento ainda não tive a confirmação por parte da companhia aérea.

O que me confortou foi receber muito carinho e atenção dos meus amigos e familiares nesse curto período de 24h (sim, isso tudo aconteceu de sexta para sábado). Mas o que me fez sorrir de verdade foi chegar em Houston e encontrar isso no quarto onde estava hospedada:

Amanhã a saga continua, mas por enquanto vocês podem ver as fotos que eu tirei de dentro do ônibus fedorento para evitar pensar que eu ia ficar 4h ali.